O ano de 2020, provavelmente entrará para a história por muitos motivos excepcionais. Além da pandemia de Covid-19, um desses motivos é a série de protestos ocorridos em todo o mundo após a morte de George Floyd. Uma luz de emergência foi acesa a partir dali, lembrando a necessidade latente de ensinar as crianças a lutarem contra o racismo desde cedo. Uma das formas é trazer livros que falam sobre racismo para sua estante.
Afinal, as crianças nunca são jovens demais para aprender e os livros fornecem um bom contexto para iniciar qualquer conversa da melhor forma possível, principalmente quando se tratam de questões complexas e importantes como essa. A importância da literatura como ferramenta de aprendizagem, aqui, cria oportunidades para que você, adulto, não só ensine a suas crianças sobre a problemática, como também celebre a diversidade.
A mudança começa em casa. E, assim, enquanto movimentos como Black Lives Matter tentam mudar o mundo representando um grito global por uma reforma antirracista, podemos ajudar educando nossas crianças para serem forças de mudança e líderes de um futuro melhor. Sem esquecer que essa é uma medida especialmente importante para as famílias negras, já que ao apresentar livros com personagens negras para seus filhos, estes ganham ainda mais importância ao dar a chance de as crianças se verem nas histórias, ou seja, verem-se como parte do mundo.
Quais livros que falam sobre racismo o Livríssimo indica?
Separamos alguns livros que falam sobre racismo voltados tanto para o público infantil, quanto o infanto-juvenil e que abordam a questão por várias óticas. Tem lançamentos e clássicos importantes para a identidade do brasileiro. Vamos conferir?
O navio negreiro
A obra escrita pelo baiano Castro Alves (1847-1871) e originalmente publicada em 1869, é o maior exemplo de livros que falam sobre racismo dentro da poesia abolicionista brasileira. O autor foi um dos poucos poetas que soube evocar as mazelas que acometem a humanidade de forma tão realista. Suas críticas sobre a escravidão, a violência e o preconceito não só foram essenciais na época de sua escrita, como continuam relevantes até hoje. Por isso, a edição recém-lançada pela Editora do Brasil de O navio negreiro é uma adaptação em HQ, que mantêm a essência em uma releitura visual e reúne “O navio negreiro”, “O fantasma e a canção”, “A cruz da estrada”, “Tragédia ao luar” e “Vozes d’África”. Além de outros trechos de sua vasta e importante obra.
Frederico, Frederico…
Falando de livros com personagens negras, em Frederico, Frederico…, Simone Mota conta a história de um garoto esperto e teimoso que consegue enxergar o mundo de uma forma especial. Para Frederico, este globo que chamamos de Terra não é feito de obstáculos, mas de oportunidades. Ele encafifou que quer ser doutor e quando coloca algo na cabeça, não tem quem tire ela de lá. E por que não? Uma criança pode ser o que quiser quando crescer, não é mesmo? É só acreditar! Este é um belíssimo exemplar da importância da literatura na promoção de uma reflexão sobre identidade, negritude, racismo e empoderamento.
Um encontro com a liberdade
Um encontro com a liberdade é uma obra que não pode faltar em nenhuma lista de livros que falam sobre racismo. Autêntico e esclarecedor, Júlio Emílio Braz aborda nela o tema da libertação dos escravos, conduzindo o leitor a perceber outro lado, muitas vezes desconhecido, sobre a Lei Áurea. O ponto de partida é a história de Gabriel, que ainda criança perdeu a mãe, uma escrava e companheira de seu pai, Valentim, um rico comerciante português. Conforme o tempo passa, ele começa a percebe que sempre trabalhou para o pai e vai entendendo não só a sua condição como a situação em que outros negros se encontravam. Que tipo de pai teria o filho como escravo?
Que cabelo é esse, Bela?
Já diz o ditado, nosso cabelo é a moldura do rosto. Muitas mulheres afirmam sua negritude a partir dos cabelos. Que cabelo é esse, Bela? é dos livros com personagens negras que traz essa importante questão para ser debatida com as crianças. Também escrito por Simone Mota e publicado pela Editora do Brasil, o foco dessa obra é Bela, que junto de seus amigos adorava brincar com a água que caía do céu, principalmente depois de descobrirem que o cabelo dela brilhava. Era um poder mágico que só ela tinha – ela era a menina do cabelo de brilho da chuva. Só que algumas pessoas zombaram, e Bela acabou se entristecendo. Por que não podia ser quem era? Foi quando sua mãe então lhe contou a origem de seu poder mágico, que nasceu com sua tataravó, uma mulher escravizada. Agora, Bela tem a escolha de renunciar ou não a esse poder. Ler esta encantadora e potente narrativa, que de uma maneira doce aborda a quebra de preconceitos e padrões de beleza, é exatamente o que seu filho ou filha precisa para descobrir o poder da ancestralidade e afirmar-se enquanto indivíduo consciente.
Vento forte, de sul e norte
Por fim, mas não menos importante, para fechar nossa lista de livros que falam sobre racismo: Vento forte, de sul e norte. Desde criança, em alguns momentos da vida, Luísa teve de enfrentar várias situações de preconceito e aceitação. Quando chamou Henrique para sua casa a fim de ajudá-lo com as aulas de Matemática, jamais pensou que ele agiria como tantas outras pessoas. Mas e aquela repentina aproximação de Gabriel? Será que ele realmente era um idiota como seu amigo Henrique? Uma história envolvente que lida com assuntos como homofobia, racismo e preconceito, mas na qual a amizade e o amor farão Luísa, protagonista deste sensível texto, tornar-se forte para aguentar os ventos do sul e do norte. Leitura importante e imperdível!