Pega a visão! Se liga que o presente é coisa do passado! Um monte de histórias inspiradas em outras tantas, com dicas de Penélope Martins.
Pega a visão! Lendo o mundo nas entrelinhas
Premonição ou pesquisa? Intuição ou conhecimento? Talento ou trabalho de curioso com leitura constante? De onde será que vêm as grandes histórias da literatura?
Você já deve ter ouvido falar de um certo escritor chamado Jules, que nasceu numa cidade portuária da França e teve a audácia de dar a volta ao mundo em 80 dias e viajar até o miolo da Terra.
Sim, estamos falando de Júlio Verne (1828-1905), ou Jules Gabriel Verne, por muitos críticos considerado como o primeiro a escrever o gênero “ficção científica”, o que não seria justo com Mary Shelley (1797-1851), a escritora que criou o Prometeu Moderno, mais conhecido como Frankenstein, livro publicado em 1818.
Em todo caso, a obra de Verne, de fato, compõe o maior conjunto de histórias que iluminam a leitura com criteriosos conhecimentos científicos, inclusive alguns deles considerados premonitórios.
E o que fez esse tal Júlio Verne?
Aos onze anos, Júlio Verne embarcou em um navio em Nantes com destino à Índia como aprendiz de marinheiro, pois queria encontrar uma prima por quem era apaixonado. Seu pai o interceptou antes que o navio saísse do território francês. Por conta disso, Júlio protestou, disse que jamais sairia da França, exceto em suas narrativas fantásticas. Mas será que ele manteve a promessa?
Em 1862, associado ao já famoso e experiente editor Pierre-Jules Hetzel, Verne publicou Cinco Semanas em um Balão, que se tornou o primeiro sucesso editorial de sua carreira. A obra, que relata a viagem em um balão sobre o continente africano com dados precisos de cartografia, geografia e física, contém também uma visão sobre as sociedades locais que, atualmente, rende uma ampla discussão sobre o colonialismo europeu.
No entanto, contextualizando seus escritos, certamente Júlio Verne é um dos autores clássicos que transformou a forma de pensarmos a leitura, um eixo ficcional que não dispensa a realidade, ao contrário, questiona a nossa relação com a ciência e projeta tecnologias capazes de revoluções profundas da vida social.
Uma pulga que fica saltitando atrás de nossas orelhas leitoras é o motivo do encantamento de Júlio Verne pela Inglaterra, o que pode ser percebido com seus protagonistas ingleses. Será que essa rebeldia tinha a ver com um certo rancor do pai, ou será que a França de sua época ficou a desejar nos incentivos à pesquisa científica? Fanfic ou suposições plausíveis?
Bem, isso a gente vai ter que descobrir nas próximas páginas dos muitos livros que ainda leremos!
Cai dentro!
Algumas previsões de Júlio Verne que se tornaram realidade:
- Da Terra à Lua (1865): Apollo 11 foi lançado na Flórida em 1961 e o primeiro ser humano pisou em solo lunar.
- Vinte Mil Léguas Submarinas (1870): David Bushnell criou o submarino Tartaruga, que navegou em 1775.
- O Dia de Um Jornalista Americano no Ano 2889 (1889): depois dos noticiários pela televisão e as videoconferências, será que Júlio Verne se espantaria com o que a tecnologia digital tem gerado de transformação para os meios de comunicação?
As obras de Júlio Verne também antecedem inventos como o helicóptero, o cinema falado, a iluminação neon, o ar condicionado, os arranha-céus, os mísseis teleguiados, os tanques de guerra, os veículos anfíbios, o avião, a caça submarina, o aproveitamento da luz e da água do mar para gerar energia e o uso de gases como armas químicas.
Pega a visão: de olho na telinha!
Traduzido para 148 idiomas, segundo dados da UNESCO, Júlio inspirou diversos roteiros para produções cinematográficas desde o tempo do cinema mudo. Confira três dicas para grudar na telinha, mas, antes, é bom ler as obras e conferir se alguns desses roteiros não misturaram elementos de dois livros de Verne, confundindo o leitor.
- “Viagem à Lua”, de 1902, realizado por Georges Méliès.
- “20.000 léguas submarinas”, de 1954, realizado por Richard Fleischer com Kirk Douglas no papel de Ned e James Mason como o capitão Nemo.
- “A volta ao mundo em 80 dias”, de 1956, realizado por Michael Anderson com David Niven como Phileas Fogg e Cantinflas como Passepartout; com refilmagem de 2004, realizada por Frank Coraci e com Jackie Chan no elenco.
Tira-teima: Leia Volta ao mundo em 80 dias e repare se há algum trajeto dos viajantes feito em um balão.
Se liga nas prateleiras da nossa biblioteca
Conheça a obra “Como enlouquecer seu professor de física”, de Elika Takimoto, com ilustrações de Ana Matsusaki. Uma narrativa que filosofa até sobre a nossa preguiça, transpondo as falsas aparências e fortalecendo o apetite para questionamentos essenciais nesse caminho para o esclarecimento, que não deve dispensar (nunca!) uma boa dose de humor e a cultura nerd que a gente adora.