A onda de Hokusai, os painéis de J. Borges, as ilustrações de cordel, tudo isso possui uma semelhança: o uso de xilogravuras. Mas o que é xilogravura? Que nome diferente é esse?
Venha com o Livríssimo entender tudo sobre essa técnica. De quebra, ainda vai conhecer o Dia do Nordestino, algumas dicas literárias e brincadeiras.
O que é xilogravura?
A xilogravura é um método de impressão antigo, cujos primeiros registros são do século V na China. É baseada no entalhe de uma figura em uma superfície de madeira, a qual é coberta por uma fina camada de tinta e aplicada a outra superfície, como um tecido ou um papel.
O método é semelhante a um carimbo, mas não se engane pela aparente simplicidade, é necessária muita técnica.
Como é feita a xilogravura?
Começamos com o artesão elaborando uma imagem, tarefa que por si só exige criatividade e estudo. Depois, ele minuciosamente a esculpe na madeira, denominada matriz da xilogravura, com instrumentos afiados, as goivas.
Utilizando pequenos rolos, o artesão cobre os relevos formados na matriz com tinta. É importante pintar apenas os espaços que não foram entalhados, são eles que formam o desenho resultante do entalhe.
Com muita delicadeza, a matriz coberta de tinta é pressionada à superfície desejada, imprimindo a imagem. Assim, é necessário que a imagem esteja espelhada na matriz, ficando correta na peça final.
Partindo do Oriente à Europa, a técnica se popularizou na ilustração de livros. Hoje em dia, em um mundo com impressoras potentes, a xilogravura se mantém viva e ainda conquistou uma importância artístico-cultural.
A xilogravura na cultura brasileira
Não há como falar na trajetória deste método no Brasil sem associá-lo às xilogravuras de cordel.
O trabalho dos xilogravadores se difundiu no nosso país a partir de 1808, quando a família real portuguesa desembarcou em terras tupiniquins. Por ser uma técnica acessível, visto que utiliza apenas de madeira, tinta e um objeto cortante, foi incorporada à literatura de cordel, passando a ilustrar esse símbolo da cultura nordestina desde o século XIX.
As contribuições de uma arte para a outra foram mútuas: as histórias se enfeitaram com mais criatividade, enquanto a xilogravura absorveu elementos da cultura local, retratando a flora, fauna e populações locais.
Não é à toa que os muitos xilogravuristas brasileiros renomados são nordestinos, como Abraão Batista, J. Borges, José Costa Leite, Amaro Francisco, José Lourenço Gonzaga e Gilvan Samico.
Falando nesta região, em 8 de outubro se celebra o Dia do Nordestino. A data reforça a cultura do Nordeste, suas comidas típicas, músicas e danças regionais, artistas e escritores. E, claro, as xilogravuras e a literatura de cordel não podem faltar nessa festa.
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Livros com xilogravuras
A história da xilogravura se relaciona à dos livros e da literatura — e essa relação é frutífera até hoje, como vamos ver.
“O encontro da cidade criança com o sertão menino” narra o encontro de José Silva, um menino do sertão de Alagoas, com João Wenceslau da Costa, seu primo da cidade de São Paulo. Escrito em estrofes de seis versos e sete sílabas poéticas, forma tradicional do cordel, a obra é ilustrada com imagens inspiradas na xilogravura nordestina.
“Cordelendas – Histórias indígenas em cordel traz” ainda adiciona outro elemento da cultura brasileira na mistura, as lendas indígenas. Por meio de rimas dos versos de cordel e de xilogravuras, o leitor encontra a explicação mitológica para diversas situações que nos cercam, por exemplo, o motivo do papagaio falar.
Para além do estilo do cordel, “Canção vinda do mar” faz uma releitura de uma lenda de pescadores do folclore norueguês. O livro ainda encanta o leitor com suas ilustrações feitas pela técnica de xilogravura.
Vamos brincar com xilogravuras?
Agora que você sabe o que é xilogravura e a sua importância para a cultura brasileira, que tal brincar de criar a sua própria?
É claro que entalhar a madeira exige muita técnica e é perigoso para quem não a domina, mas você pode fazer uma “falsa xilogravura” utilizando bandejas de isopor (aquelas que embalam os alimentos) ou folhas de EVA.
Desenhe no papel a figura desejada. Nossa dica é: aproveite para explorar os elementos das xilogravuras de cordel, como cactos, burros, bois, pássaros e instrumentos musicais, por exemplo. Com certeza nossas dicas de livros vão ajudar você a se inspirar!
Depois, reproduza a figura no isopor ou EVA com uma caneta, corte-a e cole-a sobre outra parte do isopor ou EVA. Pinte delicadamente o relevo criado e pronto! Só aplicá-lo em uma folha de papel.
Você pode criar vários carimbos com formas diferentes e compor uma paisagem completa, assim como faz J. Borges.