Pega a visão! Se liga que o presente é coisa do passado! Um monte de histórias inspiradas em outras tantas, com dicas de Penélope Martins.
O que é uma bolha social?
Qual é a sua bolha? Essa expressão não significaria nada para gerações anteriores, mas hoje em dia todo mundo sabe o que é pertencer a uma bolha… Uma bolha social é um grupo de pessoas unidas pelos mesmos interesses.
Até aí, tudo bem, afinal de contas, é evidente que a nossa espécie se organiza em pequenas, médias e imensas coletividades a depender do objetivo. Aliás, até inimigos podem se unir na mesma bolha para eliminar um problema.
O problema é justamente quem não pertence à bolha. E onde está o justo?
Alcançando quem está fora da bolha
Você já ouviu falar em direito ao contraditório? Bom, se você não se interessa por termos jurídicos, provavelmente nunca escutou o ditado Audi alterum partem (bonito, né?), mas garanto que ele será útil para a sua vida. Explico: para julgar uma situação com imparcialidade, o juiz deve garantir que todas as partes de um processo sejam ouvidas.
Você já deve ter escutado ditos populares com relação à imparcialidade da justiça. Têmis, a deusa da justiça, usa uma venda nos olhos para não ser influenciada por suas preferências. Nas mãos dela, a balança se mantém equilibrada, não pende nem para um, nem para outro lado, e sua espada simboliza a força do que foi decidido.
Pega a visão! A pequena bolha
Agora, voltemos às bolhas, misturando com uma ideia de bom senso e de justiça, será que estamos vivendo relações sociais que valorizam a escuta de diferentes histórias e pontos de vista? Será que as pessoas se permitem aprendizagens com essas escutas? Uau, falei bonito (ou não, depende do ponto de vista). E porque eu curto demais sabedoria popular e filosofia de rua, retomo outros dizeres, dessa vez sobre sapatos: “Cada um sabe onde lhe apertam os sapatos” é um deles.
Outro dia, estava eu com a estreia de um par de sapatos tão bonito quanto desconcertantemente desconfortável, o que percebi apenas depois de uma hora, bem longe de casa e dos meus chinelos. Resumo: tive uma imensa dor de cabeça, perdi a paciência e só não andei descalça na rua porque o asfalto estava fervendo. Fez bolha, óbvio. Elas sempre aparecem.
É bom que se diga, para quem curte rede social, os sapatos dos outros são sempre perfeitos.
A outra sola para reflexões de calçada é a seguinte: “Antes de criticar uma pessoa, experimente percorrer a mesma trilha com os sapatos dela”, ou seja, “quem vê as pingas que eu tomo, não sabe os tombos que eu levo” (embora eu não conheça a experiência de levar um tombo por pinga, nem nunca tenha tropeçado em garrafa, acho boa expressão).
Por fim, fico aqui pensando com minhas bolhas estouradas, como é viver com os pés sem bolhas ou não fazer bolhas por sapatos apertados, pela falta de sapatos.
Pega a visão e cai dentro!
Algumas coisas são unanimidades (ou quase), os filmes que contam histórias de longos e embolados julgamentos fazem parte dessa seletiva.
Se você nunca assistiu “O segredo dos seus olhos”, assista. A inocência e a culpa podem ser bem disfarçadas. A direção é de Juan José Campanella, com participação do grande ator argentino Ricardo Darín – que também está em Relatos Selvagens (direção de Damián Szifron), uma espécie de vários filmes curtos no mesmo filme longo, abordando diversas situações em que a injustiça sofrida cede lugar ao justiçamento, ou seja, vou dar um jeito a mi manera.
E Darín também protagoniza o padre Julián em Elefante Branco, direção de Pablo Trapero, embarcando numa luta infindável para defender as pessoas que não têm voz para contar suas próprias histórias e nem sapatos confortáveis para buscar a justiça.
Se liga nas prateleiras da nossa biblioteca
Conheça “Ocupação”, romance escrito por Tânia Martinelli, com ilustrações e capa de Maria Gabriela Rodrigues. Uma história protagonizada por uma garota que resolve sair da zona de conforto e acaba por descobrir que a vida não é um morango (outro ditado popular contemporâneo), mas que só faz sentido para quem gosta de morangos.
Bom, eu pertenço à bolha que gosta de livros e de morangos. E você?