Projeto Monteiro Lobato: qual o papel da literatura na luta por igualdade?

Assim como entreter e divertir, é papel da literatura levantar discussões e reflexões sobre a história e a atualidade. No mês da Consciência Negra, esta função social dos livros é ainda mais evidente. Oportunidade especial para debatermos o projeto de leitura da Coleção Picapau Amarelo, da Editora do Brasil, que trouxe a obra de Monteiro Lobato em uma versão atualizada, que preserva o conteúdo e a forma original, mas suprime os trechos ofensivos.

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Na adaptação, foram mantidas a prosa coloquial e a criação daquele universo de pessoas, bichos e seres fantásticos do Sítio do Picapau Amarelo, tão conhecidos por várias gerações brasileiras. Mas, alguns elementos foram modificados. O grande desafio, presente em projetos que envolvem obras clássicas, foi medir o que adaptar do texto-fonte, mantendo a fidelidade ao original. As alterações, então, partiram de uma atualização para o século XXI: com uma linguagem mais próxima à atual, adequação de assuntos relevantes e indispensáveis, e a exclusão de passagens desnecessárias ao fluxo geral das narrativas.

Mas qual seria a relevância de adaptar Monteiro Lobato?

Para responder vamos contar sobre a participação da autora Silvana Salerno, que adaptou “Reinações de Narizinho” para a Editora do Brasil, na SeLib – Semana do Livro e da Biblioteca, que abrange os educadores do Sesi de todo estado de São Paulo. No evento, falou-se de literatura e da criação das obras. Em especial, o processo adotado na adaptação dos livros de Monteiro Lobato.

“Ao cortar as expressões racistas, fiquei imaginando o que  uma criança negra sentiria ao ler que Tia Nastácia, a única negra da história, é sempre apresentada como ignorante e inferior. Imaginei uma criança branca chamando a(s) crianças(s) negra(s) de beiçudas”, “beiçolas” etc., como Lobato faz. Essa criança ficaria marcada para o resto da vida”, apontou Silvana aos presentes.

Ao final, uma professora negra pediu a palavra, emocionada agradeceu a iniciativa, dizendo que agora poderia ler Monteiro Lobato para a filha. Várias outras educadoras seguiram este caminho, elogiando a proposta. “A emoção das educadoras negras também me levou às lágrimas e confirmou que todos nós fizemos a coisa certa”, completa Silvana. 

Ou seja, o porquê adaptar e atualizar se torna óbvio pela recepção de quem diariamente trabalha com crianças e jovens que precisam se ver bem representados na sua própria cultura. Cada volume da coleção torna-se, assim, um convite ao manuseio e incentivo à leitura – individual ou compartilhada. O debate não apenas atualiza as temáticas, como põe a literatura em seu lugar de questionar o status quo. 

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