Escrever é uma arte milenar e uma paixão inspirada, mas também uma profissão regrada, que exige esforço contínuo e uma prática de trabalho. Afinal, ninguém nasce sabendo. São algumas atitudes próprias e dos outros que os rodeiam, que colaboram na formação de crianças e adolescentes em futuros escritores. Nessa história, pais e mães que investem no hábito de leitura de seus filhos, estão um passo à frente dos demais.
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O que o hábito de leitura tem a ver com escrever bem?
A leitura auxilia o desenvolvimento da escrita de diversas formas, incentiva a criatividade, a empatia, a alteridade, amplia o vocabulário e por aí vai. Será que a sua criança criativa precisa apenas do empurrãozinho final para amar os livros e se ver por trás da produção de um? Para tirar a dúvida, perguntamos a três autores da Editora do Brasil sobre seus inícios literários. Bora conferir as respostas?
Como começaram a escrever?
Silvana Salermo, autora do livro Ana e Artur na Fascinante Índia sempre gostou de escrever. “Fazia diários na adolescência e lia muito. Formei jornalista na ECA/USP, depois cursei Letras na FFLCH. Comecei publicando matérias em jornais e revistas, depois passei para a literatura, que sempre adorei. Foi maravilhoso poder me dedicar ao que mais gosto”, conta ela.
Já para Telma Guimarães, autora de muitos títulos da Brasil, como O Enigma da Cidade Perdida e Um toque de mestre, começar a escrever pareceu algo natural, já que ela sempre manteve diários em que contava sobre o dia a dia, assim como um forte hábito de leitura. “Como era uma leitora bem ávida, escrever era uma consequência das leituras que fazia. Comecei criando histórias para meus filhos à noite, para que dormissem. Ninguém dormia! Queriam sempre mais histórias e outros finais. Assim, achei que se as histórias eram divertidas e instigantes para eles, poderiam ser para outras crianças também. E passei os textos a limpo, que mantinha num caderno, e os enviei às editoras”, depois de quatro anos de tentativas, o primeiro livro de Telma foi publicado.
O que os incentivou a começar?
Comprovando a história de que o hábito de leitura dentro de casa e com o apoio dos pais é o caminho para o sucesso como escritor(a) ou mesmo como leitor(a), a figura que Telma credita ao seu início é a mãe, uma das primeiras a ler suas histórias. “Ela foi a minha maior incentivadora. Meu pai, então, nem se fala. Ele permitiu que eu comprasse todos os livros que queria quando estava na escola. Eles me ajudaram muito!”. Depois de adulta e mãe, ela diz que os filhos, como bons leitores e observadores, lhe deram também opiniões bem sinceras.
Para Fernando Nuno não é diferente, o autor que adaptou toda a Biblioteca Shakespeare da Editora do Brasil, diz que a leitura o incentivou e segue incentivando a escrever. “Quando leio um livro muito bom, fico com vontade de escrever, mesmo sabendo que o resultado pode ou não ser bom. Quando leio um livro que acho ruim, fico com vontade de escrever para ver se realmente consigo fazer algo melhor”.
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Voltando ao ponto de que a leitura auxilia o desenvolvimento da escrita como ferramenta de incentivo ao mundo da imaginação, Silvana conta que ao escrever para crianças e jovens ela volta a ser a menina que adorava ouvir e ler histórias e escreve o que gostaria de ter lido então. “Foi assim que escrevi Ana e Artur na fascinante Índia, que vai sair logo logo. A leitura e a arte foram minha principal fonte de inspiração. E, agora, conversar com os leitores é o meu maior prêmio”, conclui.
O que você diria para incentivar crianças e jovens a se tornarem autores?
“Pessoal, leiam! Histórias, HQs, contos, suspense, terror, o gênero que preferirem. Todo escritor é um grande leitor. A leitura abre uma porta na nossa mente. Sem sair de casa, viajamos no tempo e no espaço. Vamos para a Grécia antiga, no século VIII a.C., e vivemos com Ulisses as aventuras de sua viagem depois da Guerra de Tróia! Vivenciamos as aventuras atuais, do nosso século, e sofremos com os personagens, torcemos para que tudo dê certo e nos alegramos quando isso acontece”, indica Silvana.
A primeira dica de Fernando vai no mesmo caminho: “o grande lance é um mix ideal entre ler muito e praticar muito a escrita. Lendo bastantes livros você vai percebendo como é que os outros conseguiram escrever. Mas, para escrever não dá para ficar só na leitura; escrever é praticar muito, é fazer muito exercício, é pôr em ação o que você assimilou nas leituras — e é como jogar vídeo-game: você só chega na última fase depois de dominar o jogo e amargar muito game over”. O segundo apontamento do autor é que para escrever realmente bem, é muito importante observar o cotidiano, como as outras pessoas vivem, como falam, as ideias delas comparadas com as suas, e tentar colocar isso nas suas palavras.
“Mais importante ainda é se você procurar entender os sentimentos das outras pessoas, sentir em você as alegrias delas, se solidarizar com os sofrimentos delas. Por isso, para mim (e para muita gente) o maior dos escritores foi William Shakespeare, autor de Sonho de uma noite de verão, Hamlet, Romeu e Julieta e A megera domada, que eu traduzi em linguagem de hoje para todo mundo entender e que a Editora do Brasil está publicando. Shakespeare foi o maioral porque, nessas e em outras obras, entendeu como ninguém o que está na alma das pessoas e escreveu esses sentimentos como ninguém”, conclui.