Pega a visão! E vamos de cosplay

Pega a visão! Se liga que o presente é coisa do passado! Um monte de histórias inspiradas em outras tantas, com dicas de Penélope Martins.

O que é cosplay?

Cosplay é uma palavra que junta costume (traje, fantasia) e play, verbo que pode ser traduzido como jogar, brincar. Nesse jogo de imaginação, os brincantes escolhem a personagem com a qual mais se identificam e compõem um figurino para dramatização.A encenação se dá fora dos palcos, em festas, feiras, ou de maneira livre, de acordo com o interesse dos brincantes. 

O fenômeno surgiu com inspiração nos animes, mangás, histórias em quadrinhos e videogames, e se tornou um hobby para praticantes do mundo todo – os cosplayers

Pega a visão! Quem é o deus do trovão?

Dentro da pegada do cosplay, se um fã de quadrinhos disser que precisa de um martelo para compor seu visual, provavelmente, fará seus amigos pensar que seu personagem será Thor, deus do trovão que batalha com o martelo “mjolnir”. Mas se a inspiração for em mangás e animes com mitologia oriental, pode ser que o trovão retumbante venha do tambor de Raijin, o deus vermelho que adora petiscar umbigos humanos (nhami, nhami).

Acho que Zeus ficaria com ciúmes de Raijin e Thor, ambos se tornaram tão ou mais populares do que ele próprio. Tá certo que Raijin não deve ter ficado muito satisfeito com a aparição de seu nome em Naruto, compondo a dupla com Füjin nos lendários irmãos estúpidos. Talvez seja alto o preço de ser pop, não?

Um universo de referências

O estudo minucioso para vestir a pele da personagem faz do cosplay um universo imenso de referências. Alimentados pela arte em suas mais diversas linguagens – literatura, música, animação –, os cosplayers buscam afinar suas performances atentos a cada detalhe. 

Essa divertida maneira de contracenar com amigos não se afasta muito das tradições populares que mantêm um figurino específico em sua manifestação. No entanto, há diferença na força histórica que uma tradição popular exterioriza, preservando a memória e a identidade cultural de um povo.

Enquanto o cosplay se comunica com a arte pop, as tradições populares se conectam com o passado para enaltecer a trajetória de antepassados, ampliando a potência de narrativas de origem. 

E o que seria tradição popular?

Nesse contexto, o maracatu é um relevante exemplo da cultura de tradição popular brasileira. Com representação de rei e rainha, assim como outros membros da corte, todos elegantemente trajados, os grupos de maracatu recuperam aspectos fundamentais da cultura de origem africana, além de manifestar a fé em crenças religiosas trazidas por seus antepassados.

Marca de destaque na cultura pernambucana, o maracatu conta com longevos grupos de brincantes, como o Maracatu Elefante, fundado em 1800, por Manoel Santiago. No mesmo grupo, Maria Júlia do Nascimento, conhecida por Dona Santa ou Bentinha, encenou por 35 anos a rainha do povo. Mulher preta, Dona Santa morreu aos 85 anos, deixando um sublime legado de conhecimento com sua longa trajetória, inclusive por assumir a direção, em 1947, do Elefante. Registros e documentos sobre esse grupo e outras manifestações populares podem ser visitados no Museu Digital do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco.

Outros grupos nasceram e mantêm viva a tradição do maracatu em Pernambuco, alguns, inclusive, com o protagonismo de crianças e jovens. Na Associação Raízes do Sertão, em Arcoverde, além das aulas de música e história do maracatu, Valderlan Baltazar, o Mestre Val, ensina aos jovens a construir alfaias, gonguês e outros instrumentos musicais.

Mais um deus do trovão nessa história

E assim como cosplayers demonstram simpatia e afinidade com personagens pops, nas tradições populares como o Maracatu, os brincantes afirmam sua identidade saudando o passado com a força dos Orixás. 

Aliás, um dos Orixás também é conhecido por carregar seu “oxé”, um machado de duas lâminas.  Xangô, Rei de Oió, é a evocação da justiça para as religiões de matriz africana. Assim como Thor e Raijin, Xangô domina os raios, mas diferente dos outros deuses, sua presença permanece no presente e constrói a herança espiritual de um povo que resiste com sua cultura.

A grande maravilha disso tudo é que a arte não admite fronteiras, as histórias se encontram e de maneira imprevisível se misturam. Ficção ou realidade? Definição sutil de ilusão que somente Loki poderia nos trazer. Ou quem sabe Athena, deusa da sabedoria e da guerra, aquela que nunca suportou amarras, tal e qual Iemanjá, a Mãe das Águas que flui em tudo que vive.

Cai dentro!

Por falar em Orixás, eles estão presentes na super pop série American Gods lá para a terceira temporada. Aliás, Shadow Moon, personagem de Ricky Whittle, tem o poder de sonhos proféticos, semelhança imensa com Ifá. Essa ideia rende novos episódios…

Quer mais?

Se você curte animação e contos de deuses e deusas, corre para assistir “A criação das ondas”, filme desenhado e animado por Célia Harumi Seki, em stop motion, que traz a história de Iemanjá.

Se liga! 

Nas prateleiras da nossa biblioteca, conheça “Origens”. Alexandre de Castro Gomes, André Kondo, Eliane Potiguara, Luis Eduardo Matta e Sonia Rosa, juntos nessa obra que mistura ficção e realidade, recontam histórias seculares de famílias e memórias.

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