Pega a visão! Lendo o mundo nas entrelinhas. Se liga que o presente é coisa do passado! Um monte de histórias inspiradas em outras tantas, com dicas de Penélope Martins.
Manuela, a máquina de escrever
A máquina de escrever é um artigo vintage, mas sua tecnologia é de uma contemporaneidade inquestionável, não acha? Você bate uma letra e pronto, já tá impressa! Ao menos é isso o que as crianças dizem quando veem a coisa funcionando com seus teque teques sem fim.
No passado recente, fazer curso de datilografia era parte do currículo de um estudante do médio. Trinta anos depois, bizarro como tem gente que digita com um dedo só e abrevia a conversa com uma ou duas figurinhas.
Curiosamente, junto com as figurinhas, os memes, os vídeos de 15 segundos viralizando, voltaram para roda os objetos do baú: caixinha de música a corda, carimbo, selo, gravador de bolso, polaroid, máquina de escrever… Vire e mexe a gente se depara com um stories de alguém ostentando a coleção de memórias. Fazer lembrança também é função da arte! Deve ter sido nessa pegada que Mário de Andrade sentiu que deveria dar nome próprio a Manuela, sua máquina de escrever. Em uma de suas cartas para o poeta Manuel Bandeira, Mário contou com entusiasmo que batizara a máquina em homenagem ao amigo.
Nesse jogo das letras e da memória, será que você sabe dizer de pronto o que é falso ou verdadeiro?
- Mário de Andrade é um dos artistas da Semana de Arte Moderna de 1922.
- Carlos Drummond, Oswald e Mário, os três eram primos, mas fingiam não ser.
- Tarsila do Amaral não participou da Semana de Arte Moderna porque Mário se esqueceu de convidá-la.
- Mário de Andrade acumulou uma coleção de máquinas de escrever. Apenas Manuela ganhou nome de batismo.
- Mário de Andrade e Manuel Bandeira trocaram mais de 270 cartas entre si.
Pega a visão e cai dentro!
2022 marca 100 anos da Semana De Arte Moderna e as contribuições do movimento nas artes é imensa até hoje. Não foi por acaso que o cantor e compositor Emicida, em seu documentário “Amarelo”, recuperou o discurso e trouxe como ápice do filme a tomada do palco do Theatro Municipal De São Paulo. Foi nesse mesmo lugar que os modernistas declararam suas intenções de inovar e recriar a arte brasileira de forma genuína.
Em “Amarelo”, artistas negros e LGBTQIA+ emocionam a plateia combatendo discursos de preconceito. Vale lembrar que, em 2005, Beth Carvalho celebrou 40 anos de carreira como sambista no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e fez questão de afirmar o quanto era simbólico estar naquele palco depois de uma longa história de criminalização do samba.
Extra, extra!
Cinco anos antes da Semana de Arte Moderna, em 1917, Anita Malfatti, expôs seus trabalhos em São Paulo e recebeu duras críticas de Monteiro Lobato. Com palavrório ofensivo, Lobato chegou a afirmar que as artes seriam regidas por “princípios imutáveis”. Deu em nada isso aê! Cinquenta anos depois, o tropicalismo ainda reverberava as cores modernistas e seu espírito transgressor.
Agora, se liga nas prateleiras da nossa biblioteca e conheça a obra “Nasci em 1922, ano da Semana de Arte Moderna“, de Fabiano Moraes, com ilustrações de Luciano Tasso, que retoma o Modernismo na voz de Manuela, a máquina de escrever que nos reconta histórias de Mário e do movimento com bom humor e uma sofisticação genuinamente brasileira.