Quem nunca ouviu na sua criação frases do tipo “isso não é assunto de criança” ou “criança não faz isso”? De fato, precisamos pensar no que falamos para nossas crianças e nos comportamentos que incentivamos que elas adotem, mas também devemos nos questionar se não estamos sendo muito radicais e, dessa forma, desestimulando o desenvolvimento do protagonismo infantil e da sua autonomia.
O que é protagonismo infantil?
Trata-se, em um primeiro momento, da participação ativa da criança tanto no relacionamento da família quanto em sua aprendizagem. E o que seria participação ativa? É quando o indivíduo participa de decisões, articula e expressa opiniões próprias e toma iniciativas ao realizar tarefas.
Mas além de participar ativamente, o pequeno assume o papel central nas atividades que executa e nos conhecimentos que absorve. Basta pensarmos, o protagonista não é a personagem central de uma história? Isto é, a história se constroi ao redor deste personagem e, no enredo, ele também interage com os outros e os influencia. No protagonismo infantil, o jovem entende que ele mesmo é capaz de aprender, fazer e se relacionar com os outros, agindo com maior autonomia.
Protagonismo infantil e participação ativa são capacidades que precisam ser desenvolvidas, porque, em geral, elas não são inatas às pessoas. O mais importante para que isso ocorra é considerar crianças e jovens como participantes de ações e aprendizados, em vez de meros espectadores.
Benefícios do protagonismo infantil
Uma educação que incentiva o protagonismo em casa faz com que a criança também seja proativa na escola e nos outros ambientes que frequenta. Também proporciona benefícios que o acompanharão por toda a vida, incluindo:
- Estímulo para buscar o autoconhecimento e manter boa autoestima;
- Amadurecimento da própria personalidade;
- Desenvolvimento da proatividade e de habilidades interpessoais;
- Despertar do senso de cidadania e coletividade, bem como desenvolvimento de habilidades sociais;
- Capacidade de resolução de problemas.
Como incentivar o exercício do protagonismo infantil?
1. Pratique a escuta ativa
Como adultos, precisamos compreender as formas de comunicação das crianças: fala, gestos, atitudes e até mesmo silêncio. Só assim somos capazes de escutá-las de verdade e, consequentemente, encorajá-las a dizer o que sentem sem medo e a agir com proatividade.
2. Estimule a curiosidade infantil
Crianças são naturalmente curiosas, instigar a sua criatividade faz com que vão atrás das informações por conta própria, sem que alguém precise dar um “empurrãozinho”.
Modos de despertar o aprendizado ativo incluem ter contato com a natureza, para que elas raciocinem sobre como o mundo funciona, responder suas perguntas de forma objetiva e também propor que façam pesquisas. Por exemplo, em uma pergunta “por que chove?”, não vale responder “não sei”! Você pode explicar o fenômeno ou pesquisar a resposta ao lado da criança.
3. Crie ambientes educativos e acolhedores
Os pequenos precisam de espaço para explorar e aprender. Para isso, devemos elaborar ambientes seguros com estímulos educativos, incluindo um cantinho de leitura com biblioteca ao alcance do seu olhar, uma caixa com brinquedos analógicos e almofadas e tatames no chão para que se desloquem livremente.
4. Converse sobre sentimentos e sensações
Conversar sobre sentimentos – sejam os da criança ou os nossos, seus familiares – é uma etapa fundamental no desenvolvimento do autoconhecimento. Assim, o jovem reconhece o que sente e sabe conversar sobre isso com os outros.
Além disso, o autoconhecimento engloba o entendimento do próprio corpo: saber nomear suas partes, compreender suas necessidades e sensações físicas (por exemplo, o que é dor, como é a vontade de ir ao banheiro) e entender limitações.
O autoconhecimento é muito importante para o protagonismo infantil e a participação ativa, uma vez que suscita nos pequenos a autoconfiança para tomar o pontapé inicial.
5. Incentive a consciência social e ambiental
Para criar relações saudáveis e empáticas, as crianças precisam conhecer as realidades do mundo e conviver com pessoas de diferentes origens, credos, organizações familiares, aparências, entre outros aspectos.
Outro fator relevante é a noção de que nossas atitudes interferem no meio onde vivemos. Converse com a criança sobre o lixo que geramos, o uso da água, o ciclo de vida e demais assuntos que mostrem o impacto das ações humanas na natureza.
Leia também: Consciência ambiental: como ensiná-la aos filhos?
Lembre-se:
Protagonismo não é o mesmo que egoísmo! A ideia não é a formação de um indivíduo que se coloca no centro porque só pensa em si, mas porque reconhece seu potencial, usando-o também para ajudar os outros e o meio ambiente.
Livros que auxiliam pais e crianças nesta jornada
Trazemos três dicas de obras literárias que podem ser apresentadas aos pequenos para estimulá-los a agir com mais protagonismo. São histórias com personagens proativos e lugares para serem explorados. Confira!
1. “Horta, pomar e jardim, brincadeira não tem fim”
O jardim tem um pouco de tudo: flores de várias cores e odores. No pomar, há árvores frutíferas com diferentes formas e sabores. Ambos os ambientes ainda têm bichos: lagarta que vira borboleta, abelha colhendo pólen e muitos passarinhos. Esta obra incentiva de maneira divertida a curiosidade das crianças para a nossa fauna e flora.
2. “A fazenda Bem-te-vi”
Logo cedo na fazenda, todos acordam com o cantar do galo garnisé e, em pouco tempo, já estão fazendo suas atividades do dia a dia. Vaca, galinhas, patos, cavalos… A rotina agitada do campo ganha vida com o barulho dos bichos apresentados aqui para crianças curiosas.
3. “A descoberta de Miguel”
O livro traz uma reflexão sobre um péssimo hábito da vida moderna: a educação dos filhos baseada na televisão, substituindo a convivência diária da família. Miguel, ao ficar um tempo sem TV, descobre um novo mundo ali bem pertinho, dentro do próprio quintal, recheado de diversão. Ele não havia reparado antes porque perdia muito tempo na frente da tela.